Não sou especialista em turismo de aventura, nem pretendo julgar quem escolhe fazer trilhas perigosas em países distantes. Também não quero transformar em palanque político a dor de uma família. O que aconteceu com a jovem Juliana Marins na Indonésia é trágico e, antes de tudo, merece respeito. Por isso, meus sentimentos aos seus familiares e amigos.
Mas esse episódio, que comoveu o Brasil, revela mais do que um acidente lamentável: escancara, de forma metafórica, a situação em que nos encontramos como nação. Juliana caiu em uma trilha e ficou quatro dias sem socorro. O abandono que ela viveu lá fora, infelizmente, é o mesmo que milhões de brasileiros enfrentam aqui, todos os dias.
A omissão do governo brasileiro no caso de Juliana foi explícita. Ficaram inertes enquanto uma vida estava por um fio. Quando a pressão da opinião pública aumentou, aí sim começaram a se mover, mas apenas para buscar o corpo. Tudo só se resolve no grito, na comoção, no desgaste. A gestão de Lula virou reação, nunca ação.
Essa lógica de abandono e improviso se repete aqui, nas decisões que impactam diretamente a vida dos brasileiros. Vejamos os últimos absurdos: aumento no número de deputados, manobras fiscais, impostos sufocantes. Tudo aprovado como se não estivéssemos vivendo uma crise moral e econômica profunda.
Nesta semana, votei contra o aumento no número de deputados. E fiz questão de justificar publicamente esse voto. Enquanto alguns políticos negociam cargos, emendas e mostram discursos bonitos, o povo está tentando comprar arroz, feijão e um litro de leite. O Brasil virou o país dos juros mais altos do mundo, dos impostos em cascata e da gastança sem freio de um governo irresponsável.
E ainda querem convencer o povo de que aumentar o número de parlamentares “não vai gerar despesas”. Francamente! Querem nos fazer de tolos? Quem vive a realidade do Brasil sabe que tudo aumentou, menos o respeito por quem paga a conta. Infelizmente, esse aumento de parlamentares foi aprovado.
Outro exemplo foi a tentativa de aumentar o IOF. Diante da revolta generalizada, o governo foi derrotado. O Senado derrubou o aumento, e agora a proposta depende da promulgação do presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre. Com isso, os decretos que aumentavam o imposto perdem a validade, e voltam a valer as regras anteriores.
Essa foi uma vitória da mobilização, da crítica, da vigilância. O povo precisa continuar fiscalizando, pressionando e reagindo. Nada mais funciona por responsabilidade ou sensatez. Só se move no susto. Só se corrige na “gritaria”.
Por isso, volto ao começo: a Indonésia não é aqui, mas a sensação de abandono é a mesma. O Brasil virou um país onde, se a “gente cair” — seja numa trilha, num hospital ou de fome — talvez ninguém venha nos socorrer.
A menos que a gente “grite”. Então, que “gritemos” mais alto.
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Magno Malta é senador da República. Foi eleito por duas vezes o melhor senador do Brasil. |